domingo, outubro 30, 2016

... e No Entanto, Nego-me.


Bem sei que minha liberdade é o pequeno passo
Que vai da mira ao alvo.

Bem sei! – e, no entanto, nego-me
Ao disparo. Certeiro.
Que arremessos
Eu não faço.

E de pedras apenas as que a mim se afeiçoam
Como letras de poema espúrio.

Ou aquelas outras em que me sento:
- Átrio de mim mesmo - ou não sendo minhas
Balizam meu caminho.

Por isso, nego-me. Não quero ferro que mate
Nem pedra que desbaste – apenas fisga
No bolso e olhar firme.
Sem glória
Ou acinte.

Afasto então as folhas mortas
E bebo água de meus dias.
E nego-me.

Não gosto do odor dos pântanos.
E bem sei que quem com beijo mata,
Em seu veneno morre – solidão ferida.

Evoco assim meus deuses - e nego-me.
E do castelo negro em que habito
Peço e rogo. E meço e estilhaço
E, solene, proclamo.
E atesto

Que meu espelho
Nunca me servirá de máscara
Nem muito menos me será tumba
Um dia.

Manuel Veiga
30-10-2016


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