“Quando vieres
Encontrarás tudo
como quando partiste.
A mãe bordará a
um canto da sala...
Apenas os
cabelos mais brancos
E o olhar mais
cansado.
O pai fumará o
cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.
Quando vieres
Só não
encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos
entrançados
Que deixaste um
dia.
Mas os meus
filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te
tivessem sempre conhecido.
Quando vieres
Nenhum de nós
dirá nada
Mas a mãe
largará o bordado
O pai largará o
jornal
As crianças os
brinquedos
E abriremos para
ti os nossos corações,
Pois quando tu
vieres
Não és só tu que
vens
É todo um mundo
novo que despontará lá fora
Quando vieres....”
Maria Eugénia Cunhal - in "Silêncio
de Vidro" – Edição da Autora - Lisboa, 1962
........................................................................
O poema de Eugénia Cunhal foi dedicado a
Álvaro Cunhal, seu irmão, 14 anos mais velho.
Álvaro Cunhal sofrera, durante 11 anos
consecutivos o horror das prisões fascistas, donde, com outros camaradas, se
evadira, dois anos antes, numa saga heróica. E, entretanto, tinha saído clandestinamente do país, no desempenho de suas tarefas de direcção do Partido Comunista Português.
Regressou, finalmente, ao País em 1974 –
e o poema cumpriu-se!
Faleceu agora a Poetisa, Maria Eugénia
Cunhal.
Sobre Vida e Obra de Maria Eugénia Cunhal ver Centenário A.Cunhal
Sobre Vida e Obra de Maria Eugénia Cunhal ver Centenário A.Cunhal
9 comentários:
Uma terna beleza.
Boa tarde, herético. :)
Um poema muito belo!
Muito belo e muito especial,
pela muita dor resignada e contida.
Homenagem deveras louvável a esta Senhora,
que soube demasiado bem, o que custou a Liberdade.
~~~ Beijo amigo, Manuel.~~~
~ ~ ~ ~ ~ ~
Comovente Eugénia Cunhal!
" É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres....”
Vou tentar arranjar o livro. Não o tenho.
Grata pela referência.
Bj.
Não deixamos morrer os nossos mortos
Abraço
o poema é muito belo e uma bela homenagem ao irmão.
que descanse em paz.
:(
Um poema muito significativo do amor que a unia ao seu irmão.
Estão juntos de novo!
Desejo que o seu Natal seja cheio de paz, de alegria, de saúde, mas sobretudo com muito amor, sabedoria e optimismo.
Feliz Natal!
Um beijinho
Fê
Agora, é ele que a recebe, com o mesmo amor. Voltou para casa.
Seus versos são de uma sensibilidade encantadora, que comove. Uma homenagem rica ao irmão. Abraço.
Fiquei encantado com o poema, incondicional porta aberta aos afectos.
Um abraço
Ah... felizmente viveram juntos os belos tempos da nossa Revolução, depois de sofrimentos inenarrável. Mulher linda, inteira e limpa como a manhã de Abril.
Tantos dessa geração nos faltam...
Abç
Enviar um comentário