Flamejantes os
mastros. E as colinas.
Em nuas
confluências
De abraços. E de
pétalas...
Derramam-se na
cidade rios e memórias.
E soltam-se os
poetas. E os murais...
Em gesto largo
sobre o gume dos olhares
Maiakóvski –
vindo de um Futuro grisalho
De saudade e de tanta
persistência! –
Abre-se no
palco...
E grita em seu
jeito gutural e bárbaro:
-“Este é o meu Povo. Ainda!...”
A seu lado, a
Mulher de Vermelho
Solta a lágrima
da fome
E a criança
loira das espigas...
E
- Palavra de
cristal em riste! -
Arranca os olhos
e rasga-se em febre
E pitonisa
inflama-se na língua e nos prenúncios
E ergue-se na
aurora dos dias que hão-de vir...
Na densa nuvem
alvoroçada
A multidão
ignara ri e chora...
E um velho
caminheiro alquebrado -
De fadigas e da
idade - sobe então ao mais alto dos mastros
E ascende em
lume o rubro das bandeiras...
Manuel Veiga
9 comentários:
Do alto dos (teus) mastros, veremos de novo o mundo e, como Maiakóvsky,"de ervas encheremos de novo o paraíso:uma palavra tua, -e esta mesma noite"
Grande poema!
Abraço fraterno
Na verdade
sempre nos mastros mais altos
Abraço amigo
~ ~ Tardam os dias de Vitória a festejar com clamor de trombetas e flamejantes mastros... ~ ~
Que o grito inunde também as praças...
Beijo
"Derramam-se na cidade rios e memórias/E soltam-se os poetas."
Para que possam continuar a subir "ao mais alto dos mastros" para ascender "em lume o rubro das bandeiras..."
Um poema magistral! Gritos que nunca se calam!
De janeiro a janeiro
... 'a multidão ignara ri e chora.'
_ e expectadores persistentes que somos ficamos a esperar que a lua entre na 7ª casa e alinhe com Marte... nesse jogo que se repete e se repete.
Com bandeiras tremulando!
Mais um poema à altura de Manuel Veiga.Gosto !
abraço e feliz domingo
Gostei imenso da tua "palavra de cristal em riste".
Já há muito tempo que aqui não vinha (perdemo-nos), mas vejo que, por este post e pelos anteriores, continuas a fazer excelentes textos, sejam eles prosa ou poesia.
Tem um bom domingo e uma boa semana, caro amigo.
E um FELIZ NATAL.
Abraço.
Maiakóvski está honrado neste poema retumbante.
Envio o meu predileto, que foi gravado por João Bosco:
E então que quereis?...
Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.
Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.
(1927,Maiakóvski )
Feliz Natal, grande poeta.
E o grito ressoa mais alto que os mastros, neste país propício a todas as tempestades...
Um belíssimo poema, meu amigo.
Um beijo e desejos de um bom Natal.
Enviar um comentário