sábado, maio 31, 2014

SUAVE ARDÊNCIA DO POEMA...


Na subtil vibração dos corpos onde os olhares
Se buscam e se encerram prisioneiros
E a atmosfera se curva como febre
Muda...

Nessa ínfima distância entre o jogo e o dardo
Ou nesse inquieto lugar onde se tecem
Os laços ou se deslassam os nós
Como peregrinos barcos...

Na subterrânea torrente a inundar o peito
E o arfar oculto das palavras que brotam
E os lábios calam...

Nessa tensão do arco onde a música germina
Antes da corda. E os dedos se fincam
Como o grito do dorso depois da pétala
E do látego...

Na suave ardência poema. E na passageira
Apoteose do fogo antes da água.

(Ou no colapso das horas...)

O poeta depõe a inocência dos nomes
Na inconformada espera. E traça
A iluminura do(s) rosto(s) em que incauto
Se despenha...

Manuel Veiga

 

 

terça-feira, maio 27, 2014

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA LI


Babilónia tem seus ritos e praxes – tempos a tempos, Hammurabi, o legislador, quer saber se os babilónicos o amam...

Na última consulta os babilónicos viraram-lhe as costas. A grande maioria fez orelhas moucas – grande parte optou pelo “Bordalo”...

Hammurabi, o legislador, freme de raiva e “aguenta ... aguenta...”  - como lhe ordenam os senhores do mundo...
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E um jovem letrado, erguido do Povo: “Como a nossa fome, Hammurabi, o legislador, governa acima das suas possibilidades – babilónicos corram com ele!...”






segunda-feira, maio 26, 2014

O POEMA É O CENTRO..



Ver Poemas Cativos - in LouresMunicipio
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O poema é o centro – como livro, agora – 
Ara, incenso, ícone ou hino – não mais cativo.
O poema está agora noutro lado.

Ilumina-se – fogo ardido - rosto de dias peregrinos
E memória do futuro – em cada palavra e verso.
Tatuagem de um tempo sem regresso
Arde festivo - dança o momentâneo brilho -
E recolhe-se desamparado...

Combustão de afectos mal guardados.
O poeta – qual cadinho – atiça o fogo
E derrama-se como água e soletra as cinzas
Quentes ainda - bago a bago...

Manuel Veiga

Obrigado, Virgínia






 

quarta-feira, maio 21, 2014

POEMAS CATIVOS - "O POETA CUMPRIU-SE..."



O jurista, o democrata, o homem da cidadania já era poeta muito antes da publicação deste livro, que os mais íntimos sempre lhe “reivindicaram”.
Um dia disse-lhe que a poesia não pretende salvar o mundo, só ajudar – e são tantos os mundos, os silêncios, os amanhãs, que por vezes nos recolhemos à imensidão dos quotidianos partilhados e a palavra se torna relâmpago, luz em riste – pulsa onde é improvável ver mais longe.
Com Manuel Veiga a palavra depurada, significante, purificada nos textos, flui sem margens e desagua à flor da pele.
Mas que ninguém se iluda – aqui nada é espontâneo no sentido do improviso organizado, aqui a palavra é esculpida com afectos, muito mais que um artesão de metáforas. Aqui o poema é fruto que dá trabalho...
Quando o poeta diz – “Filhos do Vento e das madrugadas”- “ O grito da outra margem” – “ Os dedos do poeta se deslaçam” – “O tempo suspende-se nesta nesga de vida” – “ Me convoco no azul” – “ Abre-se o canto latejante flor de Abril” –
Quando o poeta se interroga e nos interroga, expõe-se a céu aberto, transporta-nos para um exercício que não desvenda o indizível mas sugere viagens de leitura, a boa prática de o reler, conforme as marés.
Foi com prazer que aceitei escrever estas duas linhas ao meu amigo.
Este livro” Poemas Cativos” – é uma viagem solidária com a vida, um acontecimento poético pela densidade criativa, um voo sublime de estar a intervir que a todos convoca para uma leitura em voz alta.
Na verdade nem só os barcos rasgam “destinos” contra o ciclo das marés – também os poetas, com asas a fingir de pássaros, sobem aos mastros para voar nas palavras.
O poeta cumpriu-se.
No próximo apeadeiro, cá te espero.



BEM VINDOS TODOS AQUELES(AS)
QUE VIEREM POR BEM...
No próximo dia 24 - Sábado - pelas 18 horas - Biblioteca Municipal José Saramago - LOURES

Edição - "Poética Edições" - Virgínia do Carmo


Manuel Veiga


domingo, maio 18, 2014

POEMAS CATIVOS - CONVITE




 Manuel Veiga___________________

 apontamento. apenas.


quando o homem se respira intimamente respira-se na bainha da Poesia. seja grito denúncia anseio ou lástima.  é como levantar a pele do coração e deixar que as asas do verbo lancem luz no invisível.


assim faz Manuel Veiga. ao arrepio do facilitismo cómodo ou de um romantismo falsamente embrulhado no celofane das modas.


é uma poesia em taça de fé com conteúdo espiritual e de uma estética apurada.


enche - nos o peito impositivamente. as metáforas são introspectivas certeiras e feitas da matéria do mundo íntimo do Homem.


há uma ascese e um desejo de voo em quase toda a sua linguagem que ganha sentido a cada poema a cada imersão verbal e nos convoca ora à ruína ora ao prazer. como se um léxico novo lhe caísse na voz em culto e em mediação da palavra com o silêncio.


num tempo de arrivismos para.poéticos onde vale um certo insólito este livro é uma entrega ao tempo da verdade. afinal a grande musa de todos os sentidos.
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certamente que alguém se encontrará em cada poema. em cada envolvência. que é fora das amabilidades que somos legentes e participantes deste livro que é uma implosão de labaredas com Wagner a ser "maestro".


arrojo e sensibilidade. garra e lirismo.  virtudes e supurações bem sedimentadas.  espessura. e ritmo.


seguro este livro como um sinal, e agradeço o convite para ser olhar neste breve apontamento sobre o expressionismo de Manuel Veiga. o mítico metafísico é sempre um destino da poesia.  aqui presente”.


Isabel Mendes Ferreira


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BEM VINDOS TODOS AQUELES(AS)
QUE VIEREM POR BEM...

No próximo dia 24 - Sábado - pelas 18 horas - Biblioteca Municipal José Saramago - LOURES

Edição - "Poética Edições" - Virgínia do Carmo

Manuel Veiga


sábado, maio 17, 2014

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA L


Hannibal, o possidónio, foi espraiar agruras (de Babilónia) ao Império do Meio - com luzidia comitiva e a “patrona” a tiracolo...
 
O passeio pela “Cidade Proibida” ecoou numa iluminação - Hannibal, o possidónio, deixou cair pérolas de sabedoria sobre o exercício do poder.
 
Que é o distanciamento dos cidadãos é tanto maior – deixa perceber magnânimo - quanto maior é o número de concubinas do Imperador. E, de olho na “patrona”, tentando a brejeirice: “Uma é já o que é...”
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E este vosso cronista, acalmando a úlcera e dulcificando o sarcasmo: “Grande, Grande é Hannibal, o possidónio, com uma única mulher - que faz dos babilónios eunucos e ... parvos...”
 

terça-feira, maio 13, 2014

CANTIGA OCASIONAL...



Abre-se a palavra
Ao corpo de escrita
Antes dela.
Depois
Vazio (ou quase nada)...


Cinza quente ainda?
Por vezes mosto
Talvez fermento
Ardendo
Sem outra glória
Que não seja
Fermentar...


Apenas cisco?
Cadinho talvez
Pedra rolada ou
Alquimia frustre
Que se queima
No porquê de nada...


E neste ledo engano
Lúcido embora
Acidente
Da palavra dita
(e também escrita)
Alimento
Minha fome.



Manuel Veiga

 

 

 

 

domingo, maio 11, 2014

UM SONETO BREJEIRO ... ou nem por isso!


Se a rosa cor-de-rosa abraça um cravo
E logo se desdiz,, se faz rogada,
Não fica o rubro cravo a ser seu escravo,
Mas talvez fique a rosa apaixonada
 
E, mais tarde ou mais cedo, em gesto bravo,
Reflicta na paixão que foi travada
E venha murmurar-lhe; “Eu furo e escavo
Até tornar-me a flor mais desejada!”
 
Responde o cravo, altivo: “Eu nunca disse
Que queria estar contigo, ó flor burguesa!
Não pudeste abraçar-me sem que eu visse
 
Que, usando a mais-valia da beleza,
Me ousavas seduzir sem que eu sentisse,
No teu brejeiro gesto, uma certeza!”





sábado, maio 10, 2014

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA LIX


Tozé, o inseguro, clama que o futuro de Babilónia é uma carta fechada. Que Hammurabi não abre, nem deixa abrir - que é um empata!...

E nisso se extingue!...

Porém, Hammurabi, o legislador, esgrime e ameaça - e culpa de novo o Conselho de Sábios de todos os perigos... Entretanto, Hannibal, o “perentório”, a salivar raivinhas, faz vista grossa. E perfila-se na “saída limpa”...

A praça inquieta-se e murmura – “Qual limpa, qual conho!... Ficamos na mesma”!...
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E uma velha matrona, tricotando a miséria: “Babilónicos, mãos à obra! De uma vez por todas, arejem o “sótão”!... E exterminem as moscas...”

terça-feira, maio 06, 2014

FRUTOS BREVES DE MEUS ENLEIOS...


Na linha de água de meu peito
Onde todos os afluentes se desatam
E todas as memórias se derramam.

Nesse fermente lugar
Onde todas as sedes germinam
E os ventos estivais se rasgam e se agitam
Em prenúncio de tempestades
Ou como serena mansidão de colheitas.


Na lonjura de meus olhos onde
Todos os estremos se apartam e o azul
Se desmancha como poeira dos caminhos.


No crepitar da rocha antes de ser casa
Ou muro, ou cal, ou poiso de cansaços
Ou voo de ave no delírio das montanhas
Ou sombra benigna ou fogo da palavra
Antes da combustão dos dedos.


No pináculo de meu sangue erecto
Onde os afectos escorrem
Como tálamo
E a febre se despenha
Fosforescente
Na fruição
Dos sentidos.


No bravio cardo de mim
E na solidão dos caminhos.
E nas encruzilhadas do tempo
E na glórias passageiras.


E nos espinhos.


Estendo o vazio de meus braços
Que os deuses ignoram
E recolho as dores da hora
E os frutos breves
De meus enleios.


Fugazes que sejam!...

 

Manuel Veiga

 

sábado, maio 03, 2014

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA LVIII


DEO é o novo fetiche, na constelação dos mitos, a reinar nos Céus de Babilónia...

O que comprova que Hammurabi, o legislador, é grande - e tem a Eternidade como meta...

E os babilónicos mais do Mesmo – a pobreza e a submissão à Palavra dos profetas do deus Mercado!

A praça divide-se. Uns dizem que a salvação está prestes. Muitos afirmam que o novo embuste acorrenta o Futuro às misérias do presente...
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E um velho herético, farto de tanta ladainha: Daremos graças a DEO, quando os humanos sacrifícios acabarem - “ite, missa est!...”

 

 

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...