domingo, junho 30, 2013

GOTA A GOTA O CALCÁRIO...


Gota a gota o calcário na persistência da água
Inaudível música a inundar o interior da pedra
Antes da forma...

O furor das catedrais são meus olhos
E as linhas que precedem a condensação das horas
Ainda fluidas...

E os invisíveis dedos no rosto das coisas
Que amadurecem na vibração das tempestades
Adormecidas...

Nada é eterno. Nem a voracidade das chamas
Nem o colapso dos gelos, nem a sedimentação dos dias.
Nem o esplendor das montanhas sagradas...

Apenas o vigor de cada forma em novas formas.
E a infinita permanência do Sol. E a precária vontade
Dos homens...

E o adejar do poeta derretendo as asas...

quinta-feira, junho 27, 2013

NOTICIAS DE BABILÓNIA XXIX


Hammurabi, o legislador, é um devoto do deus-Trabalho. E incita os babilónicos a fustigarem-se... Trabalhando!

Sem barro para amassarem e o barco encalhado, os babilónicos desesperam – e cercam a cidade de braços caídos. Em protesto!...
 
E proclamam que Hammurabi, o legislador, é um apostata. Que o Trabalho é luta e o desígnio dos babilónicos – quem não trabalha não come!
..........................................

E um velho filósofo, de olhar faiscante, solta uma sentença sibilina, que ninguém escuta: “O trabalho é mercadoria e escravidão – não liberta! Libertem-se do trabalho...”

 

terça-feira, junho 25, 2013

Viva a Greve Geral...



 
O escravo que tem consciência da sua situação de escravidão e luta contra ela é um revolucionário.
 
O escravo que não tem consciência da sua escravidão e que vegeta em silêncio, inconsciente e mudo na sua vida de escravo, é apenas um escravo.
 
O escravo que sente água na boca quando ele próprio voluntariamente descreve os encantos da vida de escravo e se arrebata com o seu bom e belo senhor, é um sabujo, um patego”...
 
V.I. Lénine

 

sábado, junho 22, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA XXVIII



Em Babilónia, Hammurabi, o legislador, replica jotinhas com a fecundidade de uma pródiga coelheira. E deles se alimenta, como estranha Fénix que devora as próprias crias...

Com o barco encalhado e os babilónicos nas ruas, Hammurabi, o legislador, não suporta que mais nada paire sobre a cidade. A não ser a sua sombra...

E as criaturas, do criador, criadas, fazem-lhe o frete. E reclamam pretender saber, do erário público, o peso dos sindicatos e da sua força mobilizadora...
......................................................

E um velho sindicalista, de olhar altivo e cicatrizes de luta: ”Importa levar a democracia às escolas, para que todos entendam...”

 

domingo, junho 16, 2013

Magnólias em Fim de Tarde...


Colhe o tempo magnólias em fim de tarde
Latência de um perfume que se inala como ópio
Às golfadas depois do esplendor
E persiste como vibração estreme
Ardência ainda mas já nuvem
Sem retorno...

Essa opulência outrora transbordante
É agora cadência volúvel que percorre os trilhos
Alvoroçados do mel silvestre
E das amoras
Ainda agora palato
E língua...

Sucos destemperados
Que resistem...
Ou paleta de mostos
Que os dedos amassam
Na flor dos dias gastos...

E sucumbem
Na incandescência operática
De um “encore” antes do pano...

E se transportam incrustados
Na desbotada pele das horas
Que estremece desmaiada...

E vibra ainda
Como linha encurvando-se
Antes do fecho...

 

sexta-feira, junho 14, 2013

UM HERÓI TRÁGICO DOS TEMPOS MODERNOS...


De vez em quando, na ondulação cinzenta dos dias, em que “espectáculo” da comunicação social nos embala, surge, como fogo fátuo ou o rasto luminoso de um cometa, um acontecimento, uma personagem ou um comportamento que nos retém e, de alguma forma, nos apazigua e faz acreditar ser possível a regeneração da Humanidade.
 
Assim, por estes dias. Como um herói trágico dos tempos modernos, surge na pantalha das televisões, nos comentários e notícias dos jornais uma personalidade anónima, cujo destino – sabemo-lo antecipadamente – será ser trucidado pela máquina do poder que, desassombradamente, afrontou.  Se nos limitar-nos a assistir, calados...
 
Edward Snowden, um cidadão norte-americano, de 29 anos de idade, analista de sistemas, deixou para trás toda a sua vida: a namorada, a família, os amigos, o emprego e a casa, para denunciar um totalitário programa de segurança interna do governo dos EUA, chamado PRISM. Este sofisticado programa tem vindo a coligir e arquivar gigantesca massa de dados de comunicações de cidadãos em todo o mundo, designadamente, telefonemas, cópia de emails e mensagens enviadas pelo Skype, publicações no Facebook, etc.
 
Quando o soldado Bradley Manning – lembram-se? – tornou público esse mesmo tipo de informação para o Wikileaks, as autoridades norte-americanas trancaram-no numa cela solitária, nu e em condições que a ONU definiu como sendo “cruéis, desumanas e degradantes”.
 
Conhecendo como conhecia, a implacável e indecorosa forma como os Estados Unidos cercaram e cercam Julian Assange e o processo de “neutralização” dos escândalos diplomáticos tornados públicos por Wikileaks, mais digna de admiração e solidariedade a atitude do jovem Edward Snowden, que movido apenas por dever de cidadania não hesita em enfurecer a fera e arriscar o seu conforto e, porventura, a vida, em nome da dignidade humana, face a omnipotência do Império.
 
Edward Snowden semeou ventos e irá previsivelmente colher tempestades. A mão longa do poder imperial far-se-á sentir com todo o seu peso. Em breve, os lacaios do sistema, na comunicação social, irão desencadear uma “narrativa de descredibilização” do jovem. E depois o esquecimento...
 
Aliás, o “nosso” estimável e fidelíssimo “Público”, fazendo jus aos seus pergaminhos de “a voz do dono”, adiantou-se: já hoje, em editorial, classifica o jovem Edward Snowden como “um espião ressabiado”... E se não se levantar um clamor planetário de indignação, assim será!...
 
Com esse ou outros epítetos...
 
Porém, se milhões de vozes, em todo o Mundo, apoiarem Edward Snowden, tal facto constituirá uma poderosa manifestação de solidariedade e uma eloquente mensagem de que o jovem analista de sistemas deve ser tratado como alguém corajoso por ter feito a denúncia que fez. E que, por outro lado, é a política securitária e o programa PRISM – e não ele – quem deve ser o alvo dos ataques do Governo norte-americano e das suas agências.
 
Assine a petição  Edward Snowden
 
 

quinta-feira, junho 13, 2013

... E PUMBA!



 
Álvaro Santos Pereira dixit no livro em referência....

Agora digamos se o nosso ilustre Ministro da Economia
não é um Homem predestinado...

sábado, junho 08, 2013

NOTÍCIAS DE BABILÓNIA XXVII

 
 
Existe em Babilónia um génio. Agarra os babilónicos pelos pés e sacode-lhes os últimos cêntimos. Outros são degolados, com a promessa de eterna felicidade...
 
Seus fiéis (cada vez mais raros) clamam – “salvé  Kaspar, o patriota!...” . A praça ri-se a bandeiras despregadas...
 
Os babilónicos gemem. E temem... Muitos se indignam...
 
Hammurabi, o legislador, cercado de apupos, teima. No desastre e nas teimas... E raspa-se veloz, por caminhos travessos. Acossado...
........................................
 
E um velho estrangeirado, de sete partidas andarilho e muito mundo: “Hammurabi, o legislador, anda de passo trocado – unam-se babilónicos e libertem-se!...”   

sexta-feira, junho 07, 2013

QUO VADIS?



No blog Coisas do Arco da Velha, editado pelo meu amigo Jorge Esteves, pode ler-se um texto notável sobre a "velha" democracia grega, de flagrante actualidade.

Recomendo vivamente...

terça-feira, junho 04, 2013

"MADUREZAS..."

 

Como por certo já notaram, temos, no Governo da República, um “Maduro”...
 
Fosse apenas seu distinto apelido e não cansaria eu vossa paciência, nem manifestamente, gastaria meu latim; isto é, não mereceria de mim qualquer outra atenção ou interesse que não fossem uns palavrões, no melhor vernáculo, extensíveis aliás a todo o seu governo, quando me dou conta do assalto programado à minha pensão de aposentado da Função Pública.
 
Acontece, porém, que o “nosso maduro”, vindo de Florença, chegou ao governo engalanado das vistosas penas de professor de Direito no Instituto Universitário Europeu, sediado naquela vetusta cidade italiana. Seria assim de esperar que o espírito de Galileu Galilei, ainda que de relance, tivesse desencadeado alguma luminosa centelha nos neurónios privilegiados do novel ministro.
 
Mas não. Pelo contrário, mais parece que os fantasmas da Inquisição lhe dobraram a mente e o fizeram refém das práticas jurídicas do Tribunal do Santo Ofício.
 
De facto, como compreender as estocadas (florentinas?) contra a Constituição da República e os persistentes arreganhos ao Tribunal Constitucional? E que, descontada a distância e o negrume (e as agruras) dos tempos, depois do “século das luzes” e da universalidade do Estado de Direito, venha alguém, mais a mais um “académico”, defender o arbítrio constitucional, como “razão de estado”, isto é, como fundamento da ação governativa?
 
Exagero? Mas então como classificar as recentes declarações, nas quais, preto no branco, o ministro esclarece seu doutoral pensamento, acusando o Tribunal Constitucional de limitar “em excesso” a “liberdade de deliberação democrática em determinadas matérias”?
 
Trocado por miúdos, o que está patente nestas doutíssimas e ministeriais palavras é, antes de mais, a especiosa consideração de que os governos democraticamente eleitos, devem possuir uma congénita “liberdade de deliberação”, sem terem que submeter a ação governativa ao que está consagrado na Constituição da República e, quando é o caso, ao juízo de avaliação do Tribunal Constitucional.
 
Teríamos, assim, uma sibilina inversão do ordenamento jurídico-político e no funcionamento do Estado de direito. Não seriam os governos a submeterem-se aos princípios e valores da lei fundamental do País, mas antes se instauraria uma praxis “de interpretação constitucional”, tão elástica quanto necessário, de molde a que o Tribunal Constitucional – que tem por mister, como se sabe, velar pelo cumprimento da Constituição – pudesse fazer uma interpretação “a la carte” das normas constitucionais, mais conforme com os desígnios da ação governativa, em cada momento.
 
Enfim, a institucionalização do arbítrio constitucional... E não colhe o facto do ministro Maduro se ter resguardado e considerar que “elasticidade interpretativa” valeria em circunstâncias especiais, “como estas que enfrentamos hoje”, pois que, sejam quais forem as circunstâncias, quando as leis são interpretadas conforme as conveniências do governo em funções, é a própria essência do Estado de Direito que está em perigo.
 
Já nos chegavam as folhas de Excel e os gráficos com que o ministro Gaspar nos esmifra. Temos agora um Maduro, que reduz a Constituição da República a “uma mera folha de papel”, rasgável e substituível, conforme as conveniências do poder de momento, de que já falava Ferdinand Lassalle, em 1863.
 
Enfim, o resto seriam “tecnicidades subalternas”, como afirma um distinto jurista português, zurzindo “a falta de cultura constitucional” do poder político dominante.[i]
 
 





[i] Paulo Ferreira da Cunha – in “Constituição § Política – Ed. Quid Juris.

sábado, junho 01, 2013

Uma primeira vez ...


 
 
De porto em porto,
António,
 
Que barco parado
Não faz viagem
- Diz quem sabe
E com acerto...
 
 Nem a aragem
Se faz vento...
 
Nem o caminheiro
Se agiganta
Nem os passos
O caminho...
 
E se acaso tropeçares
E no balanço caíres
Será tempo de aprenderes
Que não fraqueja quem tomba
Mas quem a queda
Receia...
 
Ou na queda
Se enleia...
 


Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...