domingo, novembro 25, 2012

FUNDAMENTOS DE UMA VIDA OUTRA...

 
 
No seu aparato, o poder mediático reveste-se das suas próprias liturgias de poder, não apenas pelo seu papel social (e a quem serve), mas porque como verdadeiro poder é visto pela sociedade, que o identifica como algo superior, definidor da realidade, revelador da verdade e criador de mitos, celebridades, que alimentam o imaginário colectivo.
 
A especificidade da questão é que o poder mediático se realiza numa espécie de “submissão voluntária”. A interiorização subjectiva dos modelos e comportamentos sociais e, sobretudo, a interiorização do “olhar do outro”, que o poder mediático exponencia, transforma cada indivíduo concreto no seu próprio vigilante.
 
O temor interiorizado “do que os outros vão pensar” (por não se frequentar tal o tal meio, conhecer a vida de tal celebridade, usar tal marca de vestuário, etc. etc.) constitui motivo de submissão voluntária à ordem estabelecida e ao consenso social, ou seja, constitui um poderoso e subtil elemento de sustentação (pela inércia) do sistema de poder.
 
Como romper o cerco?
 
Importa acentuar que, como indica Marx, a história é construída a partir das condições existentes e que a superação de uma formação social passa necessariamente pela identificação das manifestações próprias do respectivo poder.
 
Acontece que, desde o início das sociedades modernas, os meios de comunicação contribuíram decisivamente para a construção e a modulação das formas de pensar e os comportamentos dos indivíduos e para a consolidação das sociedades capitalistas modernas. Como se sabe, um dos traços fundamentais do mundo contemporâneo é exactamente o inesgotável fluxo de imagens e de conteúdos simbólicos, que conformam a realidade, as relações sociais e a subjectividade individual.
 
A realidade exige assim que os cidadãos saibam lidar com a espectacularidade da informação que invadem diariamente a vida quotidiana e com o impacto do fluxo acelerado de informações, imagens e acontecimentos, que os envolvem. Saber interpretá-los e dar-lhe um significado será uma forma de exercício do poder por parte dos cidadãos, que irá contribuir seguramente para destruturar os poderes dominantes.
 
Assim, importará ter presente que, se é verdade que somos produtos da sociedade, também somos nós, cidadãos, os produtores da sociedade que almejamos. Não somos meras marionetas de um jogo de forças, nem meros expectadores dos embates dos diversos poderes.
 
Cada um de nós é co-autor da trama em que os poderes se tecem. E, portanto, o nosso silêncio e passividade, ou a nossa acção decidida irão contribuir para manter ou alterar o estado das coisas.
 
Afinal, onde “há poder há resistência”. E toda a resistência cria por si novas “formas do poder-saber”.
 
Quer dizer, fundamentos de uma vida-outra...
 

3 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Excelente!
Mas sobrevive a questão (em termos práticos): COMO ROMPER O CERCO?

jrd disse...

Mesmo que o "poder-saber" tenha de ser um novo "Contra-poder".

Abraço

lis disse...

Oi heretico
Eu que vivo costumeiramente a ler poesia e, quando não a fotografar mares e flores, me pego lendo seus 'fundamentos ...', há de convir que as'peculiaridades',me deixam embaralhada;
não sei dizer nada, só aproveito a deixa de vir a ti, pra deixar um bocado de ternura onde houver 'resistência' rs
grande abraço

Orquestração de Hinos

  Polpa dos lábios. E a interdita palavra Freme… E se acolhe Em fervor mudo E sílaba-a-sílaba Se inaugura… Percurso De euf...