Sobre a saga académica do ministro
Relvas, estará tudo dito, consumado que está o velho brocardo de que “o ridículo mata”, ou talvez um outro,
ainda mais adequado, que se traduz na ideia de que “quem não tem vergonha todo o mundo é seu”.
Não falaremos, por isso, da famigerada
licenciatura, nem do “não acontecimento”
que a óbvia vontade do primeiro-ministro desejaria remeter para as alfurjas
mais negras, porventura, para as profundezas de um buraco negro, daqueles que o
“Deus
Criacionista” do seu ministro da Economia tem sempre à mão para evacuar
as contrariedades cósmicas.ver aqui
Não falaremos disso, portanto.
Mas leio num qualquer jornal que o
primeiro-ministro acossado pelas suas hostes, numa reunião partidária, para
justificar o indefectível apoio ao ministro Relvas, terá dito que ele, o
ministro - doutor da mula ruça e
Relvas - era um doer!...
Quer dizer,
na desembaraçada substantivação do britânico verbo “to do”, o Relvas seria, conforme que o encomiástico jornalista
traduziu, um “fazedor”...
Seria banal, assim, para tão ilustre personagem. Porém, a acentuada entoação british do vocábulo “doer” dá ao Relvas a
dimensão de um verdadeiro émulo de Bernie Madoff, não vos parece? ...
E este pequeno detalhe, sim, interessa
particularmente. Desde logo, pela pacóvia evocação da língua inglesa, na melhor
demonstração de “inglês técnico”, hélas!
Ou inglês das docas londrinas, não sei bem, pois os meus conhecimentos da
língua não me permitem aprofundar.
Porém, é por demais evidente, que não
havia necessidade: fazedor ou urdidor de intrigas e negócios seria
perfeitamente adequado...
Temos assim que para o primeiro-ministro,
o fazedor terá ainda muito para
fazer. Ou dito de outra maneira, terá ainda muito para fazer “doer” ao povo português, seja no
desmantelamento do poder local democrático, seja na entrega da televisão
pública a interesses económicos privados.
E, sobretudo, irá continuar como lídimo
representante de uma certa direita, que na articulação do fundamentalismo
ideológico com os grandes interesses económico-financeiros, exerce o poder como
se fosse um direito hereditário, torpedeando, com displicência, sobre as
instituições, sempre que os seus objectivos políticos assim o reclamem.
A mesma ideologia que da pobreza faz
mérito e virtude e considera o empobrecimento do País como redenção nacional,
ao mesmo tempo que os beneficiários do Rendimento Social de Inserção são
obrigados a trabalhar “voluntariamente”,
não porque o trabalho seja factor de independência e autonomia individual de
quem precisa, mas como castigo pela pobreza daqueles que ao subsídio se
candidatam.
A mesma ideologia, afinal, que destrói a
classe média, lança centenas de milhares nas falências, no desemprego e na
miséria, enquanto nos gabinetes alcatifados se tecem os fios dos grandes
interesses e se repartem benesses e o bolo das privatizações.
Estarei a exagerar? Mas então não é
verdade que o Ministério Público está a “investigar a intervenção e conduta de
alguns assessores financeiros nos processos de privatização da EDP e da REN”,
com buscas judiciárias em escritórios e empresas “acima de qualquer suspeita”? Com os milhões das assessorias a serem
distribuídos irmãmente. Como cães ao mesmo osso, presume-se...
Verdade seja dita que neste “affair” de
negócios, mais que o Relvas, haverá a seráfica mãozinha do ministro das finanças,
que terá imposto à Caixa Geral de Depósitos, os consultores de sua eleição e
particular estima, conforme referem notícias da imprensa diária.
Seja como for, Passos Coelho, Relvas ou
Gaspar, são fruta do mesmo cesto...
“O país vai de carrinho”, ai vai, vai... Olá, se vai...
“O país vai de carrinho”, ai vai, vai... Olá, se vai...
E assim vai a vida, neste ilustre “reino de fazedores”...
7 comentários:
Excelente prosa
a sublinhar a cáfila de malandros
alcandorados no poder
desgraçadamente eleitos
por tantas das suas vitimas
Bem dito!
Abraço
Estou farto do Relvas ser ou não Lic, assim como estava farto do Sócrates ser ou não engenheiro. Que interesse tem isso para a miseria em que nos encontramos?
Agora a Inter resplveu fazer uma "peregrinação" de Braga a Lisboa. "Brilhante"! É uma inovação.
Já agora a Inter podia editar semanalmente uma publicação gratuita, para esclarecimento dos turistas sobre as "manifs" a realizar.
Só me ocorre felicitá-lo por tão lúcida interpretação da realidade e pela forma organizada e clara com que a expressa.
Por vezes, de tão repulsivas que nos são as situações, ficamos sem saber como as definir sem recorrer ao insulto, à ironia, ao anedótico.
Isso está longe de acontecer aqui, onde as ideias se impõe, com naturalidade, dentro de um registo sóbrio e eficaz que muito aprecio.
Obrigada.
Lídia
Meu Caro,
Nada a acrescentar a tão brilhante texto, a não ser, se me permites, uma pequena adenda ao final:
"The Kingdom of the shoemakers"
Abraço
Abreviando, digo-te que faço minhas as palavras da Lídia Borges, mais acima. Desassombrado e objectivo o teu texto, a como vamos estando habituados.
Agora, uma ligeira dúvida: quando Passos se referia ao cumprimento integral das suas «encomendas» referindo o dito tradicional do «doa a quem doer» também se estaria a referir a este «doer»? Isto dos meandros linguísticos é lixado!
Abraço.
O que faz doer é o constrangimento que estes acontecimentos provocam, direi até ao nojo... por falta de vergonha e de carácter em primeiro lugar. O "expert" dos negócios opacos vai continuar, ele foi contratado para passar os negócios a uma pandilha tão desgraçada como ele. Simplesmente asqueroso !!
abraço
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