Há expressões que são mais que elas próprias. E atitudes que se ultrapassam e cujo sentido e alcance excedem os adjectivos que as possam qualificar. Quando assim acontece há que reinventar a linguagem para melhor as designar e apreender a plenitude do seu significado.
Na vida deparamos, por vezes, com alguns destes exemplos, que subvertem a ordem do previsível e que, por isso, contribuem para que mantenhamos, neste mar de bruma monocórdica, alguma capacidade de nos surpreendermos. E, então, a linguagem assume-se, em seu desbragamento, como festiva subversão do quotidiano...
Como compreendem, vêem estas linhas, a propósito do título que escolhi para esta crónica, como que a justificar perante mim próprio, não o machismo, porquanto há muitas mulheres “que los tiénen en su sitio”, mas a grosseria, ainda que mediada pelo arremedo da doce e expressiva língua castelhana.
De facto, hão-de reconhecer que os ditos “cojones” vêem muito a propósito e que dificilmente encontraria melhor expressão-síntese para aquilo que, nas linhas subsequentes, tenho para vos dizer.
Refiro-me, como por certo já deram por conta, à ousadia do primeiro-ministro espanhol em dizer alto e bom som, aos senhoritos de Bruxelas que não está na disposição de cumprir as metas do deficit 4,4%, mas que ficará pelos 5,8%, porque o objectivo acordado seria “dramático para Espanha”.
E o picante da questão não está apenas na desabusada decisão, que deve fazer empalidecer de raiva a senhora Merkel. É que o senhor Rajoy, não apenas se propõe não cumprir as metas do deficit para este ano, como é categórico a afirmar que não deu, “nem tem que dar conhecimento aos parceiros europeus”. Traduzido por miúdos, o que o presidente do governo espanhol está a dizer é que não aliena às instâncias comunitárias o último reduto de soberania do Estado, que é a soberania orçamental.
Eu sei, eu sei... Mariano Rajoy é um conservador, recentemente chegado à presidência do governo do seu País e plenamente imbuído da ortodoxia liberal, que domina o pensamento económico e político na União Europeia.
Por isso não tenho dúvidas que as metas de consolidação orçamental negociadas com Bruxelas serão cumpridas e o aperto de cinto dos espanhóis se irá agravar, como aliás o próprio teve o cuidado de esclarecer. Mas sê-lo-á nos termos e nas condições que Espanha quiser, não nos termos em que a União Europeia e a senhora Merkl ditarem. O que, nos dias que correm, não é coisa pouca...
E por cá? Nós por cá todos bem. A recessão económica agrava-se, o desemprego aumenta, a pobreza e a miséria alastram. Mas a água (pouca) continua a correr debaixo das pontes e “o Álvaro” e “o Gaspar” disputam a primazia sobre os 5800 milhões de euros de verbas comunitárias, enroladas no ego de Suas Excelências – o crescimento económico do País, coisa pouca que seja, bem pode aguardar...
Não serei eu a pedir impossíveis ao nosso primeiro-ministro, nem que tenha os “cojones” de Mariano Rajoy!... Mas um pouco mais de espinha e ordem na casa seriam elementares, não vos parece?...