quarta-feira, setembro 28, 2011

Brutal agressão aos direitos sociais...



                                                                                                        
O propósito do Governo PSD/CDS em alterar a legislação de trabalho, com o falso argumento do combate ao défice, visa a aplicação do programa drástico de agravamento da exploração que os círculos liberais e o capital reaccionário há muito perseguem e que a luta dos trabalhadores tem conseguido conter nos seus traços mais danosos.

A liberalização dos despedimentos, em grosseira violação da Constituição da República, põe em causa questões essenciais da estabilidade e dignidade no trabalho e da vida dos trabalhadores. A juntar a outras malfeitorias no domínio de contratação colectiva, horários, dias de descanso e trabalho extraordinário, fala-se agora de metas laborais como justa causa de despedimento; ou, noutro plano, da diminuição do montante e periodicidade do subsidio de desemprego, como se este subsidio fosse uma dádiva dos capitalistas ou do Estado e não produto dos descontos no salário dos trabalhadores…

É um inimaginável retrocesso histórico e uma abjecta consagração da arbitrariedade generalizada. O trabalho, que em virtude das conquistas sociais e políticas do século XX, parecia caminhar, lentamente mas com esperança, no sentido de se “humanizar” regride a ritmos e exigências demenciais, cujo paradigma apenas encontra paralelo na escravatura.

A precaridade do trabalho, hoje em dia, vai ao ponto de grande parte dos trabalhadores, sobretudo jovens – a geração dos recibos verdes - serem permanentemente eventuais, o que significa terem de se sujeitar a tudo. E perante isto, o poder financeiro e forças poderosas de negócios, os grandes interesses ainda acham pouco. Há, por isso, que fazer-lhes a vontade e institucionalizar o despedimento livre…

A apoiá-las e “inventando” velhos argumentos e teorias, uma comunicação submissa e gente muito “sábia” que há muito se senta à mesa dos orçamentos públicos (ou privados); ou então, em situação mais vil ainda, meramente na esperança de, com a sua adesão à teologia do mercado e à defesa dos poderosos, poder vir a beneficiar de umas migalhas, parcas que sejam…

No entanto, com cerca de um milhão de desempregados e quando o desenvolvimento científico e tecnológico permite produzir mais em menos tempo, o que se impõe é o prosseguimento do processo histórico de redução progressiva do horário de trabalho sem perda de salário, como elemento de progresso civilizacional e meio indispensável de combate ao desemprego.

Porém, as luminárias do neoliberalismo económico, instaladas no Governo e na comunicação social e que, em boa medida capturaram o Partido Socialista, quais profetas da desgraça dos tempos modernos, acham que a manutenção de qualquer pequeno direito social (educativo, na saúde, reforma, etc.) é motivo de derrocada financeira e de bancarrota…

Ouvi-los, nos seus inflamados dogmas, é evocar o início do século XX, quando, por exemplo, os mesmos princípios e valores se agitavam, como espantalho, contra as tímidas propostas de aposentação paga, que a classe operária e as forças progressistas, então preconizavam…

As consequências da aplicação deste programa agressão aos mais fracos da sociedade, assente no agravamento da exploração, revela até aos mais distraídos a verdadeira natureza do capitalismo. E tem como resultado evidente a acumulação de riqueza na mãos de uns quantos e empobrecimento geral do País, com mais e mais desemprego, recessão e falências sobre falência, maior dependência do estrangeiro, num desastre que se advinha e urge impedir.

É, por isso, mais  urgente e decisiva que nunca a luta dos trabalhadores e da população em geral e o pleno exercício dos direitos de cidadania, designadamente, o direito à indignação cívica e direito de manifestação, como propõe a CGTP-IN com as manifestações convocadas, para Lisboa e Porto, no próximo Sábado, dia 1 de Outubro.

Onde, certamente, nos vamos encontrar…
Traz outro amigo também...






domingo, setembro 25, 2011

DA CHINA, COM AMOR...


"Três anos passados depois do início da crise financeira global e todavia a economia mundial cresce a um ritmo lento e doloroso, com os Estados Unidos e a União Europeia enfrentando níveis de dívida pública sem precedentes e uma grande incerteza económica.

Durante os dias mais negros da crise financeira nos finais de 2008, a China pôs em marcha, com outras importantes economias desenvolvidas e economias emergentes, ambiciosos planos de estímulo, ajudando a estabilizar os mercados financeiros globais e tirar com êxito a economia global do abismo insondável em que se encontrava…

No entanto, as medidas de estímulo em vários países estão a perder ímpeto e os sectores privados falharam a sua tarefa de liderar o crescimento económico. Estes sinais negativos, juntamente com os níveis de dívida e do deficit insustentáveis em muitos países desenvolvidos, significam que actualmente a economia mundial se encontra sob uma pressão substancial.

Para os Estados Unidos e para a Europa a pior parte do declinio económico é que se encontram com pouco espaço para manobrar no que diz respeito a políticas que lhes permitam melhorar as economias, como se passou há três anos. As taxas de juros de referência já se encontram nos mais baixos níveis históricos no Estados Unidos e, na Europa, os governos estão com falta de liquidez pelo que não podem pensar em novos estímulos fiscais.

Olhando de fora, a China, com forte crescimento económico e vastas reservas de divisas, poderia jogar um papel positivo no momento de procurar uma solução para a situação actual, mas teria que levar a mudanças fundamentais na imperante e incorrecta maneira de pensar as trocas chinesas com o mundo desenvolvido.

A China poderia ajudar os Estados Unidos e a Europa se estes desistissem das suas medidas proteccionistas e abrissem os braços de uma maneira sincera aos investimentos chineses, permitindo à China aproveitar no máximo as suas reservas de divisas. Os investidores chineses têm vindo a queixar-se que são discriminados em alguns países desenvolvidos, especialmente em áreas politicamente sensíveis, como a energia e as infra-estruturas de telecomunicações.

Uma forte oposição aos investimentos chineses nos Estados Unidos e em alguns países europeus poderá advir de erradas preocupações sobre segurança nacional ou também ser fruto de puro proteccionismo, ou de um sentimento negativo do género “os chineses estão a comprar coisas no nosso território”.

Esta tendência em procurarem desculpar-se com os investimentos chineses poderá custar caro, não só aos investidores chineses que procuram crescer a âmbito geral, mas também aos Estados Unidos e alguns países europeus que estão a afastar uma das áreas mais prometedoras, onde os países desenvolvidos podem trabalhar conjuntamente com a China para controlar a actual crise.

É importante que os Estados Unidos e a Europa compreendam que o investimento estrangeiro directo da China está focado numa estratégia em que ambas as partes ganham e, quando se examina com imparcialidade é forçoso reconhecer que bastante inócuo quanto a afectar a segurança nacional do outro pais.

Por exemplo, a China com as suas nutridas reservas de divisas e a sua ampla experiência poderia ajudar os Estados Unidos a renovar a sua rede de estradas, pontes e sistemas ferroviários obsoletos. E, na Europa, o dinheiro chinês poderia fazer muito mais que comprar títulos de dívida, uma vez que ambas as partes poderiam por em marcha numerosas iniciativas de cooperação potencial, no que se refere a serviços financeiros, inovação, energias renováveis e em economias de baixo teor de carbono, com benefícios mútuos.

E o que é mais importante, se os Estados Unidos e a União Europeia continuam a olhar os investimentos chineses com maus olhos, podem assombrar as dúvidas sérias da parte chinesa acerca da sinceridade destes países no momento procurar uma associação económica de benefícios mútuos, com o país asiático.

Portanto, os Estados Unidos e as economias da eurozona deveriam adoptar uma visão racional sobre as normais actividades de investimento da China e librarem-se do comum argumento da ameaça chinesa”…

in “DIÁRIO DO POVO” – Pequim – 21.09.2011

Tradução da versão em castelhano.
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“Recado” mais claro, clarinho não há…
Será que Durão Barroso ainda fala chinês?!...

Talvez necessite de treinar e dar umas lições à senhora Merkl…







    










terça-feira, setembro 20, 2011

Avaras horas do presente...


Esplêndida a distância na profusão de meus olhos
Longínqua na ardência das tardes
Que hão-de vir na persistência dos homens
E nas avaras horas do presente…

Densa poalha azul cortada na liquidez do ar
Como pingos de um tempo imemoriável...

Nada no oiro refulgente tem o brilho do sol
Espreitando a nuvem onde o horizonte
Se solta abraçando mares…

Quem nesse abraço se perde?
Quem breve declina o verbo na paisagem?

Nem os barcos fundeados são degredo
Nem esperanças fugidias são deserto
Nem remanso de enseadas moleza de águas…

Nem a linha do horizonte se fecha
No declínio da tarde …

E vemos o que vemos. E sentimos o que sabemos.
Apenas o que nos braços cabe
E o fios que tecemos…

E neste abismo de alvíssaras  
Me despenho…









           




quinta-feira, setembro 15, 2011

Homens sem rosto...

Como bem sabem, mais não seja que por saber de experiência feito, o rosto é o “espelho da alma”. O que significa que a história do rosto humano é a história do controle da expressão, das normas religiosas e éticas, sociais e políticas que, a partir do Renascimento e dos alvores do capitalismo, contribuíram para o surgimento de um certo tipo de comportamento social, sentimental e psicológico, baseado no afastamento dos “excessos” e no “silenciamento” dos corpos. E no recalcamento das paixões…

Estes constrangimentos físicos e morais, determinaram o aparecimento de um certo tipo de “persona”, que os autores designam por “homem sem rosto”, caracterizado por uma expressividade medida, reservada, prudente, circunspecta e calculada, por vezes, reticente ou mesmo silenciosa.

Assim, importa assinalar que a expressão do corpo e da face condensa sempre a interiorização por parte dos indivíduos das tensões, constrangimentos e dependências sociais, que modificam e deformam as sensibilidades humanas, mais íntimas e complexas.

É verdade que o desenvolvimento das sociedades modernas e a generalização dos cuidados de higiene, da institucionalização dos sistemas de saúde e de educação, da multiplicação das migrações e do aumento do bem-estar em geral, tem vindo a contribuir para homogeneizar os tipos físicos e a esbater lentamente, nas classes médias urbanas, as origens sociais de seus rostos e as marcas de seus misteres e trabalhos.

Pode dizer-se que, com o aparecimento das sociedades de massas, a identidade tende a apagar-se em cada individuo – os rostos tornam-se anónimos! Mas nem por isso fisiognomonia, ou seja, “a arte de conhecer o carácter humano pelas feições do rosto” perdeu actualidade. Por exemplo, a psiquiatria e a criminologia, sabem-no bem! E atrevo-me a sustentar que também essa “arte” será pertinente nas relações políticas e seus protagonistas, empolados pela comunicação social nas suas “marcas da expressividade”.

Nesta perspectiva, bem desejaria eu dominar as subtilezas dessa nobre arte “de conhecer o carácter humano pelas feições do rosto” para poder decifrar a natureza profunda do Ministro da Finanças, cujo rosto na sua expressividade inexpressiva e fria - verdadeiro “homem sem rosto” - ficará, pelas piores razões sem dúvida, na memória dos portugueses.

É que, meus amigos, o seu fundamentalismo ideológico e seu zelo aos cânones do liberalismo económico e, sobretudo, as torturas que infligem no corpo exangue da sociedade portuguesa levam-me a admitir, na expressão de seu rosto e na sua voz melífica, que em contexto histórico tão distante, ainda se mantêm vivos os modelos fisionómicos e culturais dos oficiantes da inquisição.

Mas devo estar enganado. Em verdade, pelo seu brilhante curriculum profissional nas instituições europeias, designadamente, como membro do Comité Monetário Europeu, a sua participação no Tratado de Maastricht, ou como Chefe do Gabinete de Consultores Políticos da Comissão Europeia talvez seja mais adequado admitir que afinal tal rosto revela espírito de porta-estandarte de “bandeiras a meia haste”, que alguns dos seus epígonos da União Europeia sugerem para a bandeira da República Portuguesa sem, tanto quanto se saiba, um arrepio de indignação de Sua Excelência…

Enfim, rostos!...  E, sobretudo, políticas…





domingo, setembro 11, 2011

Nem baxá, nem mártir?



Padre António Vieira - in "História do Futuro"

Que sirva de meditação ao novo Secretário Geral do Partido Socialista
(que presumo leitor de Vieira)
enredado nos compromissos com a troica estrangeira...

domingo, setembro 04, 2011

LAGO DE MEUS OLHOS...


Fecundas as águas no ventre da montanha
Que desenham percurso e foz
E são várzea e sede antes de acontecerem…

(Ou o lago de meus olhos antes da cinza…)

Glorioso o fogo no interior da rocha
Onde a sarça arde em prenúncio de lume
E a palavra se celebra antes da sílaba…

Ardente a brisa e a adejante folha
No suspiro da amoreira - que seda
Será um dia depois da larva e do canto
Das mulheres ou os dedos de Atenéia.

Aventurosos os profetas que lêem os sinais
E o coração dos homens. E a pedra onde
Assentam catedrais e as linhas que erguem
Seus pináculos - débeis que somos!…

Desabridos os punhos da história. E seus abismos.
E a fome dos famintos. E suor e o sangue.
E o pão que amassamos. E a terra que gememos…

(Dulcíssima a mão das mães!...)

Subterrâneo o grito das coisas que do chão
Levantamos - água e fogo em que ardemos!… 

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Uma arreliadora intervenção cirúrgica aos olhos (que me dizem simples) impede-me de desfrutar da vossa companhia por alguns dias...

Espero voltar em breve de olhar mais arguto e palavra mais solta...

Beijos e  Abraços.





  


Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...