segunda-feira, junho 30, 2008

MUDANÇA DE RUMO NA POLÍTICA EDUCATIVA

A CGTP-IN colocou na sua página da Internet, um Manifesto em Defesa da Escola Pública, tendo como objectivo a sua subscrição por entidades colectivas, personalidades, trabalhadores e cidadãos em geral.

Esta iniciativa coincide com o ano lectivo de 2008-2009, dado que é imperioso que haja uma mudança de política na área da educação. Para a CGTP-IN, a Educação constitui um dos instrumentos fundamentais no combate às desigualdades, pois contribui, de modo decisivo, para a preservação de valores sociais, cívicos e culturais essenciais; e, por outro lado, reveste-se de particular importância para as pessoas no mercado de trabalho.

As opções neoliberais do Governo estão a conduzir a uma escola menos pública, menos inclusiva e menos democrática. Tem sido progressivo o desinvestimento na Educação, com impacto significativo nos orçamentos dos estabelecimentos públicos, desde a Educação Pré-escolar ao Ensino Superior.

As alterações impostas à legislação sobre Educação Especial põem em causa o direito das crianças e jovens, com necessidades educativas especiais, ao apoio específico especializado e aos princípios da escola inclusiva, inscritos em recomendações internacionais subscritas pelo Estado Português.

Para a CGTP está em causa a qualidade da Escola Pública, que não pode deixar de estar associada ao ataque sem precedentes que este Governo está a fazer contra os profissionais da Educação, docentes e não docentes, a par de uma campanha pública de desvalorização social da sua imagem.

Os custos da Educação para as famílias aumentaram 30% nos últimos seis anos, ao mesmo tempo a acção social escolar estagnou, sendo claramente insuficiente num País marcado pela pobreza, desemprego e precariedade e onde os salários são dos mais baixos da U.E.

Para a CGTP trata-se de uma exigência de respeito pelos preceitos constitucionais, pela Lei de Bases do Sistema Educativo e a reafirmção da luta tendo em vista que o Estado mobilize os recursos necessários no sentido da afirmação de uma Escola Pública com qualidade.

Pelo que a CGTP apela âs pessoas individuais e colectivas a subscreverm o documento.


Defesa da Escola Pública
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Este blog associa-se militantemente (sem receio da palavra) e com gosto pessoal do seu autor a esta campanha em Defesa da Escola Pública.

sábado, junho 28, 2008

A última cena de Ofélia...

Não sei ao certo como o “Xico Mariazinha”, com a Ofélia a tiracolo, apareceu no grupo. Sei, porém, da inegável estima que meu amigo Zeca, alentejano de Beja e predador de donzelas desvalidas, dedicava ao jovem casal. Na verdade, para alguns de nós, aquela amizade tornava-se suspeita. Aquilo ainda acabava mal!...

Tanto mais que a Ofélia, quando o Zeca chegava, desfazia-se em blandícias com o “seu Xico”, mas era o Zeca quem devorava com seus belos negros, acesos como carvão incandescente... Sempre a primeira a rir-se das suas pilhérias. E a procurar, estrategicamente, o lugar na mesa do café, de forma que a perna, “inadvertidamente”, tocasse o joelho do Zeca. Sempre, claro, de atenções redobradas com o “seu Xico”. Como quem esconjura pensamentos malignos...

Enfim, pequenos prenúncios de sangue ardendo nas faces de Ofélia, quando meu amigo Zeca elogiava um pormenor da sua toillete ou as “façanhas” escolares de Xico, esforçado estudante de Direito!...

Um dia, na ausência do casal, meio a rir meio a sério, entre duas “imperiais”, alguém insinuou que ele, Zeca, “um dia ainda acabava por saltar para a espinha da Ofélia”.

- “Tu és parvo ou quê?... “ – indignou-se o Zeca – “eu sou amigo do gajo, ouviste?!”...

Era assim o Zeca. O belo sexo merecia-lhe classificação escatológica, do tipo pirâmide invertida: a mãe e a irmã, (fora da escala), as mulheres ou namoradas dos amigos (que eram intocáveis), e as “outras” (que o Zeca desfrutava); e, no final da escala, uma última categoria, que pudor impede de referir, mas que o Zeca diria serem “fêmeas de boi!”...

Ora, conhecendo o Zeca, eu próprio ficava intrigado com o fraternal desvelo que dedicava ao jovem casal de namorados. Em rigor, nenhuma afinidade. O “Xico Mariazinha” era filho único de militar de carreira e de uma abastada proprietária rural. A educação estivera a cargo de um tio padre, na ausência do pai em diversas comissões de serviço em África. A Ofélia era vizinha e amiga da família. Seria motivo de alegria e de girândolas familiares o dia em que a Ofélia fosse “entronizada” como esposa do Xico. Que apenas a conclusão do curso adiava...

Foi, assim, na dupla qualidade de namorada e vigilante da salvação da alma do Xico, que a Ofélia fora “destacada” para a capital, onde mal frequentava um curso de enfermagem. O “seu Xico” era, assim, o seu mundo e sua devoção. Mexia-lhe o açúcar. Administrava-lhe a mesada. Passava a limpo os apontamentos. Lembrava-lhe os deveres religiosos. Velava pelo vinco das calças... Enfim, uma dedicação de extremos maternais...

Que tinha o Zeca a ver com isto?! - interrogava-me, por vezes...

O Xico, apesar do sufoco, tinha sangue na guelra. E gostava de umas saídas, para além da Ofélia. Era, por isso, natural que a virginal Ofélia fizesse umas birras. Solícito, lá estava, então, o Zeca dando conselhos, tentando compor as coisas...

Numa ocasião, porém, as coisas não iam ao lugar. Desesperada a Ofélia – contou-me o Zeca uns bons anos depois – telefonou e propõem-lhe um encontro. Mais que nunca precisava de apoio, choramingava do outro lado do telefone. Que ele Zeca não lhe faltasse neste momento de aflição. Que por amor de Deus, que pela sua amizade, viesse. Que seria mulher do Xico ou de nenhum outro. Tinha, aliás, uma proposta que o convenceria a interferir a seu favor...

Entre contrafeito e intrigado, o meu amigo Zeca foi. Encontram-se no lar da Ofélia, na salinha confortável das visitas, onde poderiam ter uma conversa delicada, sem os ouvidos indiscretos das colegas ou das freiras...O Zeca esperava uma mulher desfeita em desgosto. Ficou, por isso, perplexo quando lhe apareceu uma Ofélia sorridente e “negligé”, em toillete de trazer por casa, onde sobressaíam uma camisa de dormir curtíssima e a mal disfarçada nudez das coxas, no robe flamejante de cor e de sensualidade...

O Zeca pasmava. Sobre o motivo da visita, a páginas tantas, a Ofélia, fazendo sempre grandes protestos de amor pelo “seu Xico”, entre dois descruzar de pernas, foi sugerindo ao meu amigo Zeca, alentejano de Beja e predador de donzelas desvalidas, que ela, Ofélia, seria sua amante, desde que este “lhe trouxesse o seu Xico de volta”...

- “Imagina-me tu, aquela vaca!...” – ferveu o Zeca com uma gargalhada de raiva indignada...

Foi o fim da macacada. O Zeca, leal aos seus amigos, não resistiu. Contou a cena ao “Xico Mariazinha”. Fez mal, reconhece agora...

Depois disso, o Xico e a Ofélia desapareceram da circulação. Soubemos depois que a Ofélia casou, passado pouco tempo, com um tipo da Marinha Mercante. Nas horas de solidão matrimonial, dedicou-se a promover umas festarolas divertidas na sua residência, na Cruz Quebrada.

O “Xico Mariazinha” voltou às berças. Casou, então advogado reconhecido, com uma menina da terra. E ficou com duas!... (Mas isso são contas de outro rosário, de que um ia darei nota, se vier ao caso.)

E regressou a Lisboa, há uns tempos, feito deputado...

O Zeca é que, ainda hoje, não perdoa a última cena da Ofélia e o esfriar da amizade com o Xico Mariazinha

- “Há coisas que um gajo prefere não saber, pá!... ” – desabafa, encolhendo os ombros...

Agora digam-me se o meu amigo Zeca, entre as suas consabidas qualidades, não é também um verdadeiro filósofo...

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Bom fim-de-semana. Cuidado com os calores de Verão ...

quinta-feira, junho 26, 2008

O exemplo vem do alto...

"Não fiz, não faço, não façarei!" ...

Por mim não prometo. Nunca digo desta "água não beberei..."

E, no caso, o exemplo vem do alto....

Ora escutai...

TSF

terça-feira, junho 24, 2008

Tomai e comei...

Turvam-se os caminhos. Mas do sangue
Apenas o que farejo no barroco empolgante de Coppola
Nos mistérios nocturnos da Transilvânia
Nas oníricas danças das Parcas
No mistério decadente dos vampiros
E no absoluto amor do conde de Drácula...

Fora esse
Apenas o sangue da fêmea com cio
Ou arrancado ao peito para alimento dos famintos
Ou o sangue selo secreto
Das cumplicidades da vida.

E o sangue abortado de uma flor vermelha
Ou o virginal rubor das manhãs sem nome
Que me entram pela janela...

Ou a ceifeira morta. Ou a papoila decepada...
Ou o vermelho da romã nos lábios febris do beijo
Primevo.

Fora esse
Apenas o sangue quente do vinho e do mel
Em que ondas me expludo e teimo
Longe de caminhos palmilhados...

Este o meu corpo: tomai e comei!...

domingo, junho 22, 2008

A pedra no sapato do meu amigo Zeca...

Como bem sabem, o meu amigo Zeca, alentejano de Beja, economista do Quelhas, como faz questão acentuar, não vão confundi-lo com algum desses gestores de aviário de uma qualquer faculdade privada, tem sobre o belo sexo um fascínio arrasador. As mulheres, para o meu amigo Zeca, são (têm sido) um permanente assobio na sua farta bigodaça...

É verdade que, dobrados os cinquenta, o Zeca começa dar sinais de soçobrar. A Mitó, desde o recente jantar com o Zeca, lá em casa, vai confidenciando “coisas” à minha mulher e há indícios de que o meu amigo se “rendeu”, finalmente. “Sic transit gloria mundi...” - digo eu para os meus botões, perante a beatífica esperança e o exaltante “oxalá” da minha companheira...

Outro sintoma é o cada vez mais apurado gosto do Zeca pela cozinha. É verdade que sempre o Zeca caprichou numas belas migas alentejanas, um prato de caça, ou uma sapientíssima sopa de cação. Mas ultimamente exagera. Está a tentar – imaginem! - escrever um livro sobre a cozinha tradicional portuguesa. Cujos testes práticos, vai compartilhando com os amigos, no seu belo apartamento debruçado sobre o Tejo.

Nessas ocasiões, esgotados os temas de futebol e da política, os feitos do Zeca com as mulheres, são o prato forte das conversas, por entre gargalhadas, libações e o fumo de charutos.

Recentemente, o Xico Mariazinha, (o “betinho” do grupo), por certo ainda ressabiado de uma estória de saias, que um dia contarei, picou o Zeca:

- “ Ó Zeca, afinal porque é que te negas a falar da Madame X (chamemos-lhes assim por conveniência) e do teu despedimento?! ... Ainda não engoliste essa, pá. Mas olha que já era tempo...”

O Zeca estivera mesmo à beira de “ter uma vida boa”, não fora o caso da Madame X, uma mulher “que andava a pedi-las” (Zeca dixit), esposa do administrador da empresa pública, onde o Zeca era assessor.

E enquanto nós víamos sangue, ou no mínimo, uma cena de pugilato na sala do Conselho de Administração, o Zeca confiava, maduramente, os bigodes. E, finalmente, decidiu-se:

- “ Está bem. É tempo de encerrar o assunto. Pelo menos vocês deixarão de me chatear...”

E contou!...

O caso resume-se ao seguinte. Por motivo de uma reunião inadiável com uns estrangeiros quaisquer, o administrador pediu-lhe, um dia, para ir esperar a mãe, senhora de província (e vagamente aparentada com o Zeca) que chegava para uma vista e para uns exames médicos!... “Serias a única pessoa a quem eu poderia confiar a minha mãe” – garantiu-lhe o administrador.

O Zeca, pelas razões consabidas, tinha todas as razões para desejar as boas graças do administrador. Foi, portanto, fazer o frete...

A velha senhora, cansada da viagem, mal entrou no automóvel, descalçou-se. Coisa que passou despercebida ao Zeca. Os sapatos novos, libertos do aperto dos joanetes, abalançaram-se, com as travagens e balanços do trânsito da capital, em circuito turístico dentro do automóvel. Com a total indiferença da velha, que adormecera...

Num sinal vermelho, o Zeca deu por conta de um sapato feminino, solto, por baixo do banco dianteiro ... Pensou rápido. Antes de partir ao encontro da velha, estivera com Madame X, dentro do automóvel, na garagem do prédio, onde por um triz não foram descobertos, em lascivas carícias. Madame X saiu precipitada pelo elevador e o Zeca arrancou que nem uma bala...

O sapato só podia, pois, ser de Madame X, caído na precipitação da fuga. Estaria desgraçado – suava o Zeca tormentos! - se a velha reconhecesse o sapato, corpo de delito dos seus amores com a nora. E se bem pensou, melhor o fez: o Zeca atirou o sapato pela janela carro, desfazendo-se, com arte, da prova do crime...

Imaginem o resto. A velha, chegada a casa, debulhada em lágrimas e a entrar ao pé-coxinho, no solícito ombro da nora. Tal enxovalho apenas poderia ser redimido com sangue. Ou no mínimo com a cabeça do Zeca:

- “Despede-o. Com urgência!...” - intimou a velha, contando ao filho...

Que pode um filho, perante uma exigência desse tamanho?!... O Administrador despediu-o, claro...

E, assim, se perdem boas vidas e os talentos deste País.

O Zeca não merecia...


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Divirtam-se! Bom fim de samana...

quinta-feira, junho 19, 2008

El infierno de Guantánamo

VERGONHA!...

Direitos do Homem e emancipação da Humanidade...

A história dos direitos do homem, plasmada em códices, tratados e diplomas, é a história do processo da sua emancipação. O início da caminhada, remete-nos, tanto quanto é possível alcançar, para a formação da civilização greco-romana e da própria criação da ideia de direito.

Quanto sangue vertido na Lei das XII Tábuas? Hoje é difícil imaginar. Sabe-se, porém, que esta instituição fundadora é consequência das lutas sociais, em Roma, do Sec. V a. C. Na antiga Roma, por séculos e muito mais tempo, a nobreza de sangue concentrava a posse da terra e também, como se compreende, os negócios públicos e a administração da justiça. Ora, como acentuam historiadores do direito romano, “se alguma vez houve uma época que a plebe não fosse mais que a revolução em permanência e o seu direito a possibilidade de auto-defesa, esta foi a época da Lei das XII Tábuas”.

A Lei das XII Tábuas foi, portanto, resultado de lutas sociais. Como tal, é contraditória. É o produto de lutas e compromissos. Nem a plebe era uma classe social homogénea; pelo contrário, era muito diversificada no seu interior. Mas pela luta, os marginalizados e oprimidos socialmente conseguiram fazer valer a defesa dos seus interesses, contra o arbítrio.

Foi apenas o historicamente possível. Mas a Lei das XII Tábuas não deixa de constituir, por isso, um grande salto para a Humanidade – ficava consagrado o princípio da legislação escrita. Ou seja, o princípio da segurança jurídica e a garantia de se ser julgado apenas face à lei e não perante o arbítrio do julgador.

É difícil imaginar quanto hoje somos beneficiários dessas lutas sociais, no Sec. V a. C. e a importância desse princípio inovador...
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Entretanto, na história moderna, os direitos de personalidade e os direitos políticos, foram separados, à nascença, dos direitos económicos, sociais e culturais, embora todos eles fruto do mesmo parto revolucionário – a Liberdade e a Igualdade, proclamadas da Revolução Francesa.

Após a 2ª Guerra Mundial, os primeiros eram os chamados “direitos do Ocidente” e, tantas vezes, exibidos como instrumento de propaganda política e de ataque aos países do bloco socialista. Enquanto que os direitos económicos e sociais eram depreciativamente considerados como “direitos do socialismo”.

Com o colapso do bloco socialista, os vencedores da guerra-fria, cavalgando o liberalismo económico mais desenfreado, sem barreiras que eficazmente se lhes oponham, “meteram na gaveta” os direitos económicos, sociais e culturais, que receberam o impulso dos ideias do socialismo e da luta de emancipação dos trabalhadores e dos povos. E, até mesmo os direitos de personalidade e os direitos cívicos e políticos, que constituem a matriz da revolução liberal, são constantemente postergados, como a realidade dos nossos dias gritantemente demonstra.

Julgo, por isso, que importa, cada vez mais, prosseguir no combate pela defesa dos direitos fundamentais do homem, em todas as suas vertentes, expurgando-os dos miasmas idealistas das diversas concepções doutrinárias de direito natural, de que são em grande medida tributários.

Como sustentam alguns autores “o Direito não é simplesmente o reflexo mecânico do ser social”, mas antes uma categoria de pensamento definida “através, das relações sociais e das suas condições materiais(...), onde os factores ideológicos desempenham um papel essencial...”

É, pois, como instrumento de luta ideológica pela emancipação da humanidade, que os direitos do homem e, em especial, a defesa e o aprofundamento dos direitos económicos, sociais e culturais poderão ser social e politicamente produtivos, bem se sabendo que ainda está longe o dia em que o direito à alimentação ou ao emprego sejam considerados tão normais como o direito de votar em eleições, ou o direito aos cuidados de saúde seja tão respeitado como o direito de habeas corpus, (apesar de todos os Guantánamo da actualidade)

Importa apontar o caminho. E talvez um dia as gerações futuras olhem para a história actual como o mesmo esplendor com que hoje compreendemos a Lei da XII Tábuas. Sendo certo que a “aceleração da História” o permitirá em menor espaço temporal...

Compete aos homens e mulheres do tempo presente antecipar esse tempo histórico futuro!...

segunda-feira, junho 16, 2008

"As aventuras da mercadoria..."

Ansel Jappe é um pensador de esquerda, assumidamente radical e anti-sistema. Partindo de Marx, que considera essencial para compreender a realidade contemporânea Anselm Jappe não acredita na reforma do capitalismo e considera que estará em curso a sua “crise definitiva” para além das ilusões do consumo, em que estamos submersos.

A urgência de combater os perigos da globalização, sem ceder, contudo, à “lógica do sistema”, como por vezes acontece, surge como uma das pedras de toque da sua produção teórica e da sua intervenção cívica.

O seu livro “As Aventuras da Mercadoria”, publicado, em Portugal, em 2006, foi uma leitura estimulante neste meu regresso “espiritual” a Ítaca. O autor, por ocasião do lançamento do livro, esteve em Lisboa para uma conferência na Universidade Nova sobre a “crise do capitalismo”.

Na oportunidade, deu uma entrevista ao jornal "Diário de Notícias” de que respigo alguns excertos como aperitivo para a leitura do livro. Claro que não encontrarão nele qualquer “alternativa”, nem muito menos a “A Alternativa”.

Mas, por certo, ficarão a saber “que para encontrar uma alternativa à sociedade mercantil não é preciso ir muito longe (...): é na origem da sociedade ocidental, precisamente aí onde a mercadoria iniciou o seu triunfo histórico, que se encontra o seu contrário. Há em Aristóteles um pensamento que merece verdadeiramente ser retomado: a ideia de “vida boa” como verdadeira finalidade da sociedade. É esse o contrário do serviço do deus-fetiche que é o dinheiro.”

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“Em as Aventuras da Mercadoria, revisita as ideias de Marx sobre a crítica do valor. Porquê este regresso ao Marx mais económico e menos político?

Nos últimos anos, ouvimos muitas vezes dizer que o pensamento de Marx está ultrapassado e que há muitas coisas que já não podemos explicar com o pensamento de Marx. A verdade é que, se uma análise simplesmente sociológica já não funciona, o Marx que determinou as categorias de base do capitalismo - a lógica da mercadoria, do trabalho abstracto, do dinheiro - ganhou actualidade, porque essa lógica que então nascia ampliou-se mais e mais...

O seu livro defende que já estamos a viver a fase final do capitalismo. No entanto, o que vemos nos países desenvolvidos é o contrário disso: uma demonstração de força. Cada vez se consome mais, de forma mais rápida e com estratégias comerciais mais agressivas. Considera este paradigma de sucesso económico é uma ilusão?

Podemos dizer que há alguns produtos, como telemóveis ou as viagens aéreas, que custam cada vez menos, tornando-se acessíveis a cada vez maior número de pessoas. Mas se observarmos bem, em paralelo, temos o desemprego sempre a subir. Há um sentimento generalizado de insegurança quanto ao futuro. E se as pessoas consomem freneticamente é porque têm a sensação que tudo é precário, de que tudo vai terminar de um dia para o outro

É a ansiedade da “humanidade supérflua”.

Exacto. E isto atinge não apenas os pobres, mas também as classes médias. Durante muito tempo, pensou-se que mais depressa morreríamos de tédio que de fome. A realidade está a encarregar-se de desmentir essa profecia.

Mesmo assim, aparentemente a catástrofe final ainda não chegou ...

Não se trata de um processo apocalíptico. Mas o certo que o sistema está hoje muito mais em crise do que nos anos 70: a produção verdadeira, a acumulação de capital real, perdeu importância face à acumulação de capital fictício, nas bolsas e na especulação imobiliária”.

Há quem diga que a globalização foi a tábua de salvação do capitalismo.

Para mim é apenas uma fuga para a frente.

A crise do capitalismo será sempre uma crise global. Isso não dificulta a luta contra o sistema?

É verdade. Mas isso não quer dizer que a solução passe pela reforma do sistema que existe. Pelo contrário. (...) a globalização é como um barco que já não tem combustível e que continua a navegar apenas porque vai queimando, pouco a pouco as tábuas do convés.”

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Boa semana de trabalho. E evitem, tanto quanto possível, os Centros Comerciais... rsss

sexta-feira, junho 13, 2008

Déshabillez-moi - Juliette Gréco

..."nouveaux espaces de liberté!

Yves Saint Laurent...

Le Parti communiste français salue le grand artiste et l'homme.

Avec son fameux blouson noir, le smoking féminin, la collection Shakespeare ou la saharienne, Yves Saint Laurent aura révolutionné la haute-couture par son attention aux évolutions du monde, son amour des femmes, le dialogue permanent avec les autres arts, la peinture, le cinéma, la littérature, le théâtre. Homme libre, il voulait aussi par la mode ouvrir de nouveaux espaces de liberté. C'est lui, par exemple, qui aura osé le premier offrir le pantalon aux femmes.
Artiste immense, messager du luxe et de la beauté, il était aussi un homme du partage. Le défilé Yves Saint Laurent à la Fête de l'Humanité en 1988, mis en oeuvre avec Pierre Bergé et Michel Boué, témoignait de sa capacité de don. Yves Saint-Laurent ne concevait pas sa place comme celle d'un marchand de vêtements chers pour femmes riches. Le triomphe populaire de cet événement lui a donné raison.
La France, le monde, avec le décès d'Yves Saint-Laurent, perd un créateur qui marquera longtemps l'imaginaire collectif bien au delà des seuls clients du luxe. Le Parti communiste sait qu'avec sa fondation, sa mémoire sera poursuivie mais aussi l'aide aux jeunes créateurs comme il le souhaitait.

Parti Communiste Français

Paris, le 2 juin 2008.
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Eu sei, eu sei!...

A actualidade nacional tem muito para comentar. O "dia da raça"... a "carreira política" do eng.º Sócrates... as velas enfunadas do "Tratado de Lisboa" e o referendo irlandês... os preços dos combustíveis e os lucros fabulosos das gasolineiras ... os patrões da camionagem e as "debilidades" do Estado ... o endividamento das famílias e a pobreza envergonhada... etc.. etc...

Mas em francês, tem outro charme... Reconheçam...

domingo, junho 08, 2008

Regresso a Ítaca...

Granítica paisagem de meus olhos
Tão longínqua que assusta a águia em seu voo picado
E a tímida giesta se embaraça na rocha sob o musgo
Apenas o vento se atreve e o fumo
Tudo o mais é espaço e lume ardido ...

O sol que das cigarras tem o canto guardado
E nos raios acesos o delírio de flores secas
Amarelo de tanto estio. Desce agora.
E o horizonte esfarrapado. Nuvens breves acenando
Lá ao fundo. E o mar como ausência além surgindo ...

Pedras sobre pedras. Tão perfeitas formas
Que tombam. Ou se erguem sob invisíveis dedos como pássaros.
Quixotescos castelos domados. Ou fantasmagorias.
Na vertigem da noite dos tempos. Como a cruz solar
Dominando o cume na contraluz da tarde ...

O templo é esta secreta pedra. Cravada como unha
Na montanha. Por dentro fechada e por fora o silêncio.
E o lixo. Agonizante festa que morde a rocha.
Restos. Saturnais em cinza quente ainda.
Ou fanada dança solta pelo caminho ...

Somos o que somos. No íntimo círculo
Bem sabemos que estas antas são apenas reminiscências
Que eufóricos buscamos. E o esboroado muro. E a afeiçoada pedra.
E sofremos então a dor do teixo sob hera
E bebemos a água cristalina pelos dedos ...

E nos fios de Penélope que nos prendem. Sólidos.
Somos o mar que agora se fecha. Somos ilha.
E o perfume do vinho raro que brindamos.
E a tentativa destes versos (Como abraços).
Que não hino, nem poema. Mítico regresso apenas.

Ítaca montanha...

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Estarei ausente do vosso convívio durante uns dias.
Deixo um abraço. Até breve....

sexta-feira, junho 06, 2008

Fragilidade(s)...


Passo a passo, António
E o mundo
Em cada esquina.

E em cada homem
Um abraço...

E a mão que te encaminha
E o calor de quem passa...

E a voz que te embaraça...

E a queda
E o erguer de novo
E o fel
E o mel
E o lume
Do caminho...

E o olhar em cima
E o vigor em teimar ...
E o fogo dos céus
E toda a água do mar...

E grito que em ti clama
E o sangue solidário...
E o choro
E o riso...

Passo a passo ...
Breve
Que seja!...

Assim a vida, António!...

terça-feira, junho 03, 2008

Vampiros reyes de la noche

reis da noite e dos dias que passam...

Os Senhores do Mundo...

Campanha contra o livro “Clube Bilderberg - Os Senhores do Mundo” - Mensagem de Daniel Estulin

Através de um amigo, por quem tenho o maior apreço, recebi o apelo do escritor Daniel Estulin, sobre as dificuldades e pressões sobre a publicação, em Portugal, do seu livro “Clube Bilderberg - Os Senhores do Mundo”. Por que não quero para o meu País a vergonha de novas (ou velhas) censuras e independentemente do juízo que, depois da leitura, cada um possa fazer sobre o conteúdo do livro, passo esta mensagem, que se me afigura revestida de seriedade e autenticidade.

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“Chamo-me Daniel Estulin. Sou o autor de “Clube Bilderberg - Os Senhores do Mundo”. Devido a algumas informações muito perturbadoras que temos recebido dos nossos amigos em Portugal, estou a escrever a todos os bloggers portugueses a pedir ajuda.

Recebi informações de alguém que trabalha para a “Temas & Debates” em Portugal que os editores receberam FORTES PRESSÕES de membros do governo PARA NÃO VENDEREM O LIVRO acerca do Clube Bilderberg. Aparentemente este apanhou mesmo o governo de surpresa e assustou-o. Têm medo que este se torne num fenómeno mundial. De facto, está a tornar-se num fenómeno mundial, uma vez que foi editado em 28 países e em 21 línguas.

Esta carta é um pedido de ajuda. Por favor enviem-na a qualquer pessoa disposta a lutar pela liberdade de expressão. O governo e o meu editor em Portugal, “Temas & Debates”, estão a tentar sufocar este livro porque têm medo que este possa criar uma base que se transforme num movimento populista em Portugal, como já aconteceu na Venezuela, na Colômbia e no México, nos quais a primeira edição esgotou em menos de 4 horas e causou manifestações em frente das embaixadas dos EUA, algo que, como é óbvio e devido ao bloqueio da comunicação social, você não viu nem ouviu na televisão, nem na imprensa nacionais.

Se não enfrentarmos estas pessoas da “Tema & Debates” e do governo, elas irão vencer esta luta e nós, o povo, ficaremos UM POUCO MENOS LIVRES E UM POUCO MAIS PODRES INTERIORMENTE. Peço a todos aqueles que queiram ajudar que:

Apelem a todos os bloggers que por aí andam a telefonarem para a “Temas & Debates” a perguntarem o que se passa e a EXIGIREM que vendam este livro. Já contactei todas as pessoas que conheço pessoalmente e estas estão a organizar uma campanha de telefonemas e de envio de cartas PARA TELEFONAREM OU ESCREVEREM À “TEMAS & DEBATES” E EXIGIREM UMA EXPLICAÇÃO.

Estão dispostos a telefonar aos vossos contactos na imprensa, aos vossos amigos e aos amigos dos vossos amigos e verem se estão dispostos a publicar esta história e em ajudarem? O que o editor e o governo mais temem é O ESCRUTÍNIO PÚBLICO E A ATENÇÃO INDESEJADA.

Quantas mais pessoas telefonarem e assediarem o editor, e o governo, menos possibilidades terão eles de levar essa tarefa a cabo. Se não fizermos algo seremos tão só MENOS LIVRES NO FUTURO. É ESSE O OBJECTIVO DA BILDERBERG. MAS NÃO É ISSO O QUE EU QUERO PARA OS MEUS FILHOS.Com base nas nossas fontes no Porto e em Lisboa, descobri que muitas pessoas têm ido à FNAC à procura do livro mas que, de acordo com a FNAC, “o editor, por qualquer razão, não está disposto a vendê-lo.”

Posso dizer-lhes, por experiência própria em Espanha, que esta pressão funciona. Inicialmente, a primeira edição foi de 4.000 exemplares que se esgotou num dia. A Planeta (a editora espanhola - nota do tradutor) estava a ser MUITO vagarosa no reabastecimento das livrarias. Organizamos uma campanha massiva na comunicação social na qual isto quase se transformou num ponto crucial para a liberdade de expressão. E funcionou. A Planeta cedeu, o livro avançou e actualmente foram vendidas mais de 65.000 cópias. Também podem divulgar este número na vossa página.

Além disso, estou a organizar uma série de seminários em Portugal para falar sobre os Bilderbergers e os Planos da Ordem Mundial. Esta atenção indesejada irá irritá-los profundamente. Os Bilderbergers são como vampiros. O que odeiam mais que tudo na terra é que a luz da verdade brilhe sobre eles.

Se isto resultar em Portugal, irei enviar uma dura mensagem a outros países que desejem ceder à pressão dos membros do governo ou a quem quer que seja. Agradeço-lhe adiantadamente e estou disponível para o que possam desejar de mim.”

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De acordo com a nota de leitura do livrom que acompnha o apelo, o “Clube Bilderberg” reúne presidentes, primeiros-ministros e banqueiros internacionais tendo em vista estabelecer estratégias para controlar os mercados e impor as suas regras e onde os convidados dizem em privado o que nunca ousariam dizer em público. Ao longo dos últimos cinquenta anos, este grupo seleccionado de políticos, empresários, banqueiros e outros poderosos tem-se reunido em segredo para tomar as grandes decisões que afectam o mundo.

O livro “Clube Bilderberg - Os Senhores do Mundo”, dá conhecer quem mexe os cordelinhos nos bastidores dos organismos internacionais conhecidos.

Não temendo pôr em risco a própria vida, Daniel Estulin conseguiu romper o muro de silêncio que protege as reuniões do clube mais exclusivo e perigoso da história e revela:

- Porque se reúnem os cem mais poderosos do mundo, todos os anos, durante quatro dias.
- O porquê do silêncio dos media em relação a estas reuniões.
- Que vínculos existem entre o Clube Bilderberg e os serviços secretos ocidentais
- Quais os planos do Clube Bilderberg para o futuro da humanidade.




domingo, junho 01, 2008

Tango - Carlos Gardel - Volver

volver... por supuesto!

Eram cinco horas em ponto...

Eram 17 horas. Em plena baixa, do outro lado da rua, oiço o meu nome soltado num berro feroz. Era o meu amigo Quim Remédios, do alto do seu metro e noventa, pronto a “esmagar-me os ossos” num abraço.

Há que anos que não via o Remédios... E, no entanto, tempos houve que éramos unha com carne. Mas, enfim, a vida tem cursos distintos e nem ele, nem eu, lamentamos o rumo que tomámos...

- “Oh pá, nem imaginas o que acaba de me acontecer...” - atirou-me o Remédios sem dar tempo de me recompor.
-
Claro que não imagino! Mas tenho a certeza que mete saias...” – retorqui, num sorriso, enquanto me libertava do esfuziante abraço.

Devo esclarecer que “remédios” não é seu apelido de família. Trata-se de uma garbosa alcunha que o meu amigo ostenta e que vem desde os velhos tempos das avenidas novas. O Quim, nesse tempo de estudante de medicina, tinha sempre uma receita infalível. Fosse qual fosse a doença, real ou imaginária, fosse enxaqueca, ou insónia, ou torcicolo, ou anemia ou males de alma, o Quim disparava sempre: -“Ó pá, f... É remédio santo!...” Daí o “remédios”!...

A verdade, porém, é que o Quim não era um teórico. Praticava a “receita” e respirava saúde. Mas era um forreta em questões de dinheiro...

O Quim Remédios nunca casou. Arrasta, no currículo, duas ou três relações mais ou menos (in)estáveis e mantém-se fiel ao lema de apenas “casar com a profissão”; aliás com manifesto proveito, pois que, para além da clínica privada, exerce funções destacadas num Hospital público.

Mas vamos a história. O Quim Remédios conhecera, em situação que não revelou, uma distinta senhora da alta sociedade que frequenta e aprazaram o encontro fatal. Nesse dia. À hora de almoço. Numa pensão da Baixa, coito de marginais, imigrantes clandestinos e amores ocasionais...

- “Estás a perder classe...” – ironizei – então isso é lá local para levar uma senhora?!...”

- “Mas que queres, pá! A gaja queria que a fizessem sentir uma galdéria. Tive que escolher o cenário adequado... “ - gargalhou.

Confesso que também ri com gosto, aguçando a curiosidade para o resto da história.

Dispenso-vos dos pormenores mais ou menos escabrosos para, em síntese, vos dizer que, no tálamo do amor, a senhora guinchava e rugia como possessa. Rugir?! Melhor, a dama troava e gemia, em diversos registos sinfónicos, como se as carícias do meu amigo Quim fossem trombetas celestiais em acordes divinos...

Eis senão quando, no auge da batalha amorosa, semi abafados pelos libidinosos sons da dama, a porta do quarto rebenta de estrondo, qual apocalipse vindo do fundo do corredor.Com uma insistência inaudita, as pancadas na porta multiplicavam-se. O Quim murchou na função e ficou, com todos os sentidos, em alerta. Que pensar numa cena tão insólita? O pior, claro! Uma rusga da polícia?! O marido ciumento?! Um assalto?!...

De respiração suspensa, preparado para tudo, embrulhado no lençol como túnica de senador romano, em pose solene, o Quim levanta-se, deixando a dama, ainda mal refeita das celestiais trombetas, estendida sobre a cama, exposta, como virgem sacrificial...

Entretanto, a espera exasperava o intruso!... Do lado de fora, uma chave roda na fechadura e, de supetão, surge um jovem negro, belo como uma escultura de bronze, saída das mãos de Rodin (palavra de Remédios!)

(Nesta fase da descrição, na minha mente perversa formigavam cenas inarráveis, em que o negro seria o artista principal ...)

- “Patrão, estão aqui a fazer uma barulheira dos diabos, assim não pode ser” – atirou o negro perante o olhar dominador do meu amigo Quim! – “com esta barulheira tem que pagar o dobro ...”

Grandioso, num gesto aristocrático, o meu amigo Quim abriu então a carteira e estendeu uma nota das grandes ao negro, perplexo com a fartura.

- “Há momentos, em que um homem não se pode cortar nas despesas!...” – remata, filosófico, o meu amigo Quim Remédios, perante o meu irónico sorriso.

E, desta forma, sem uma palavra sequer, com quem passa uma receita, o meu amigo Remédios decidiu o incidente. E, deo gratias, assim salvou a honra da dama e as delícias do celestial concerto...

Agora digam-me que o dinheiro não dá a felicidade!...

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...