sábado, maio 20, 2006

As dores do Prof. Carrilho....

O prof. Carrilho candidatou-se, em lista do Partido Socialista, à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa e perdeu. Agora escreveu um livro. Vantagem dele que sabe escrever livros. Outros candidatos têm perdido eleições e não escrevem livros. Alguns, talvez, por não saberem escrever livros. Outros, seguramente, porque consideram que ganhar ou perder eleições faz parte da vida política e do chamado “jogo” democrático.

Ao que parece, o Prof. Carrilho sente-se injustiçado pelos grandes órgãos da comunicação social – televisões, jornais ditos de referência, comentadores políticos e agências de comunicação, seja lá isso o que for. A meu ver com toda a razão...

De facto, a generalidade dos media tem lembrado, de trás para a frente e da frente para trás, os alegados defeitos do Prof. Carrilho (mau perder, vaidosíssimo, casado com uma mulher bonita, amante do jet set e pai de criança precocemente trazida às lides eleitorais). Sem dúvida que, na actual emergência, o Prof. Carrilho tem sido maltratado...

No entanto, o lançamento do livro tem ampla cobertura mediática. Honras de “Grande Entrevista” na Televisão Pública e uma revoada de intervenções nas televisões privadas. Anuncia-se até o confronto dos “Prós e Contras” num combate apocalíptico. O País vai parar perante as queixas do Prof. Carrilho e as razões da comunicação social. Como se não houvesse vida para além das dores do Prof. Carrilho...

Por certo adivinharam que não sou especial admirador do Prof. Carrilho. Confesso, porém, que me incomoda esta chusma a dar porrada num fulano que teve a desfaçatez de desafiar intocáveis. Tanto mais que o Prof. Carrilho escreveu e afirma algumas coisas, que acredito serem verdadeiras.

Não duvido, por exemplo, que sobre ele recaiu a sanha enfurecida dos interesses empresariais na área da construção civil que, em programa eleitoral, se propunha beliscar. Ou que lhe chegaram a propor um negócio de compra e venda no leilão das consciências e dos votos.

Agora, o Prof. Carrilho, escreve um livro e afronta o dragão na sua toca. Um herói trágico, o Prof. Carrilho?!... Nada de exageros! As coisas são o que são. Na post modernidade que nos rodeia, cada um usa as armas que possui, sem quaisquer embaraços com valores “arcaicos” ou “obsoletos” costumes de coerência.

Assim, é natural que, paga a factura e esvaziada a espuma da polémica, o Prof. Carrilho seja recuperado pelo “tecido mediático” e venha a alimentar o dragão que agora combate. Para utilizar uma expressiva afirmação do próprio, pergunto-vos: “não acham bizarro” este particular interesse da comunicação social pelo livro do Prof. Carrilho?! ...

O Prof. Carrilho ousou afrontar interesses instalados?! Tem o meu apreço. Mas não poderá queixar-se que não sabia onde punha os pés. Outros, antes dele, o têm feito (porventura com o mesmo vigor) e, como ele, têm sido publicamente enxovalhados. Mas não consta que tenha rebentado, nos céus da comunicação social, semelhante alarido.

Significativo, não acham?!...

13 comentários:

Licínia Quitério disse...

Tudo muito confuso. Intelectual, político, colunável. O que é preciso é ser notícia? Estas tricas não me agradam. A quem servem as exuberâncias do Professor? Quem se aproveita delas? Eu, francamente, ainda não descobri.
Abraço.
Licínia

M. disse...

Eu ouvi-o em directo. Felizmente, porque cada vez mais estou como o São Tomé, e mesmo assim tenho as minhas dificuldades em perceber onde está a verdade (ou as verdades) e onde está a manipulação. Mas que ele foi corajoso, lá isso foi. Agora o que está por trás... quem me dera saber. Que virá a seguir?

Maria P. disse...

Eu não tenho paciência para o Prof. Carrilho, estou farta destas novelas sempre com um "final feliz"
e sem proveito público.

Bom domingo.

Diafragma disse...

Pois eu aprecio a tua imparcialidade mas também não tenho paciência para o Prof. Carrilho, e o que mais me desagrada (para além de tudo o resto...) é que me tentem deitar poeira para os olhos. Fico mesmo muito zangado. E, na minha opinião, todo este alarido é surrealista. Caricaturando, seria um pouco como um político qualquer da nossa praça vir a público dizer, com ar muito espantado, que tinha descoberto que a política tem coisas sujas.
Francamente!
Então o homem rodeia-se de todos os consultores, assessores e profissionais da área para uma campanha como é normal, e vem-nos depois com a história que os meios de comunicação é que o tramaram? Será que nos quer fazer crer que estava tão cego e imberbe que não deu conta das suas asneiras (e dos media) a tempo de as corrigir ? Então se não deu conta, (como sucedeu pelos vistos na campanha do Mário Soares) que faça a sua análise introspectiva, e não se arme em vítima de cabalas.

maria disse...

Estou como diz a outra "maria": já não há pachorra para tanta patetice, tanta falta de nível, tanta alienação com a finalidade de esconder a verdadeira e tão sombria realidade do cidadão comum, essa sim, a dever merecer a cobertura dos midia, na desocultação de tanta manobra de diversão... Alienar, alienar, para bem (des)governar, não é? Como no passado não tão longínquo assim... Mas a memória é curta, muito curta...
Muito boa a tua análise, Herético, e é bom que se fale assim, sempre...
Beijo

Jorge Castro (OrCa) disse...

Já disse lá mais para trás, que comentários desassombrados sobre a nossa politicazinha e os nossos politicozinhos como os que por aqui vou apurando, me enchem de contentamento e me fazem, até, imaginar, pela sua elevação, que a realidade não é tão "chula" como, tanta vez, me parece.

Não se trata de louvaminhice. É um facto que apuro com agrado e que não me inibo de sublinhar. Das ideias expendidas à forma que como o são.

Devo confessar que o Carrilho não se me depara como um dos cromos da política que mais urticária me provocam. Tem aquela pose e tal, mas é livre de juntar os trapinhos com a Bárbara ou com quem muito bem entender, que não será por isso que eu lhe sinta estremecer a imagem.

Depois - que diabo! - também não vem mal ao mundo que ele ande com o filho ao colo em campanha... O filho é dele. A cada um o seu juízo quanto ao (mau) gosto.

Agora - e tenha ele santíssima paciência - dificilmente me convencerá daquele estado de graça, misto de ingenuidade e de pureza, que supostamente o fez tropeçar com o tal dragão (ou dragões), tendo-o conduzido à inexorável derrota eleitoral, para mais, de imagem contundida e aviltada.

Ao nível atingido por ele próprio, Carrilho, quer na estrutura do PS como na do poder político, essa ingenuidade e pureza nem existem, nem fazem sentido.

Não sei se terei tempo para ler o livro agora lançado. Mas, se o fizer, terei de me rodear de nuvens, querubins e sons de harpas. Talvez então a base argumentativa se me depare mais consistente.

Um abraço.

M. disse...

« M said...

A todos três que aqui me desejaram um bom duche, agradeço a simpatia. Afinal foi um dia bem passado e até deu para pendurar algumas palavras à janela... ;-) »

lique disse...

Eu tenho que confessar a minha antipatia pelo Prof. Carrilho. Aquela pose, aquela "intelectualidade" toda não fazem o meu género. Lamento. Os métodos que usou durante a campanha não reverteram em favor dele provavelmente não só porque os media o atacaram. Certamente houve muitos erros que custam caro, numa eleição.
Agora tenho que te dar razão quando dizes que está a alimentar o dragão que combate. E até acho que isso lhe é muito conveniente. Imagem de vítima, por vezes também resulta.
Beijos

JPD disse...

O MMC, amparado pelo PS, prescindiu do apoio do PCP para redigir um programa para a cidade, dando continuidadde a um trabalho em comum -- PS PCP -- que parecia agradar as ambas as organizações. Como a onda era e crescendo e absoluta...prescindiram!

A condução da campanha decorreu com váris atribulações que mediaticamente foram mais desfavoráveis a MMC do que a CRodrigues.

Sendo MMC um intelectual assumido, um herdeiro da politica cultural de J. Lang, em desespero, aceitou a vulogata da família e do filme --risúvel e sabiamente explorados.

Perdeu.
Não reconheceu as razões estritamente políticas e vá de redigir um livro a queixar-se dos outros -- O demónio são sempre os outros! -- e atacando os media -- Claro que merecem críticas -- mas não na forma como MMC o fez.

Não li o livro, não irei lê-lo e deploro que o enfase mediática à volta da sua edição.
MMC não se propõe analisar como os media funcionam; disseca a injustiça contra a incompreensão da sua tão querida campanha.
Lamentável!
Sobressanria a mais.

Peter disse...

Talvez não lhe perdoem ter casado com uma mulher lindíssima ...

Nilson Barcelli disse...

Eu não gosto do Carrilho desde que ele saiu do governo do Guterres e, passada cerca de uma semana, já estava a ganhar dinheiro na comunicação social a dizer mal das políticas do governo e do Guterres.
Fiquei a perceber, nessa altura, que é uma pessoa sem ética. Independentemente dele tar razão ou não, não o devia ter feito.
Assim, eu acho que foi ele que perdeu a Câmara e não o Carmona Rodrigues que a ganhou.
O livro não deve ter qualquer interesse, mas dou-lhe o benefício da dúvida. Ainda não li qualquer análise sobre o dito...
Abraço.

Alberto Oliveira disse...
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folhasdemim disse...

Bom... de facto apenas conheço o Carrilho pelos meios de comunicação social. Não gosto dele, tal como não gosto de muitos políticos que estão (ou não) no poder. Também não tenciono ler o livro. Para mim, o erro dele não foi ter casado com uma figura pública bonita, mas sim o facto de não ter sido coerente ao m«longo da campanha. Na política, tal como em outras áreas, não se pode querer ser amigo de toda a gente. Se não quis apertar a mão na sic notícias atrás das câmaras, não devia ter apertado posteriormente em frente a elas.
Quanto às agências de comunicação... todos sabemos que assim é. Mas se tem, provas que faça queixa na justiça e não em entidades reguladoras que nada fazem.
Até porque também existem bons profissionais no jornalismo que não se deixam comprar.
Beijokas, betty

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